Pandemia: Relatório do Congresso norte-americano aponta para fuga laboratorial e denuncia falhas na gestão

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Elisabete Tavares|12/12/2024

Falta de debate científico, censura de informação verdadeira e más práticas. Estas foram algumas das conclusões do relatório de uma comissão oficial nos Estados Unidos que investigou durante dois anos as origens e a gestão da pandemia de covid-19 no país. O documento divulgado no dia 2 de Dezembro arrasou com a resposta à pandemia, concluindo que os confinamentos e o fecho de escolas tiveram efeitos terríveis na economia, na saúde dos norte-americanos e nas crianças. Também concluiu que a imposição do uso de máscara se baseou em estudos defeituosos e o distanciamento social careceu de evidência científica. Mas o relatório revelou ainda as más práticas e potenciais violações da lei, incluindo de responsáveis apanhados a mentir nas audições perante a comissão. Por outro lado, o documento revela que a provável origem da covid-19 foi um acidente que levou à fuga do vírus de um laboratório em Wuhan, na China. Por coincidência, nesse mesmo laboratório, uma organização norte-americana conduziu pesquisa perigosa com financiamento dos Estados Unidos.


Para alguns, terá sido uma surpresa, mas para os que acompanharam os trabalhos e audições da Subcomissão da Câmara dos Representantes, nos Estados Unidos, encarregue de investigar as origens e a gestão da covid-19, as suas conclusões e o relatório final já eram esperados. Uma das conclusões é de que a resposta da Organização Mundial da Saúde (OMS) à pandemia de covid-19 foi um “fracasso abjecto” porque cedeu à pressão do Partido Comunista Chinês e colocou os interesses políticos da China à frente de seus deveres internacionais.

Uma das principais conclusões desta comissão bi-partidária é que a origem provável da pandemia de covid-19 terá sido um acidente num laboratório na China, envolvendo eventualmente pesquisa perigosa de manipulação de vírus para os tornar perigosos para os humanos (‘gain-of-function’). No centro da polémica, está a organização EcoHealth Alliance Inc, liderada por Peter Daszak, que usou financiamento dos contribuintes norte-americanos, através do National Institute of Allergy and Infectious Diseases (NIAID), liderado por Anthony Fauci, para fazer pesquisa perigosa em Wuhan, na China. Para eventualmente mascarar esse facto, Fauci promoveu e contribuiu para a publicação de um artigo numa publicação científica com vista a desacreditar a tese da origem do vírus ser de uma fuga de um laboratório.

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Entretanto, segundo o relatório, novas informações revelaram que o Departamento de Justiça iniciou uma investigação às actividades da EcoHealth durante a pandemia. Enquanto isso, a administração Biden estará a ponderar conceder um perdão antecipado para proteger Fauci de eventual investigação criminal no futuro, segundo o Politico. O relatório concluiu que o NIAID e, em geral o National Institutes of Health, falharam na supervisão do financiamento de potenciais pesquisas perigosas além de que existia na instituição a prática de fugir à obrigatoriedade legal de manter registos oficiais, além de esquemas para evitar pedidos de acesso a informação (FOIA).

A 7 de Abril de 2020, numa conferência de imprensa,  o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, identificou o financiamento da EcoHealth para desenvolver pesquisa na China como  potencialmente problemático.

Mas, durante os trabalhos, esta comissão apurou que, segundo e-mails escritos pelo principal assessor de Fauci, David Morens, foi criado, durante a pandemia, um esquema que envolveu a existência de um ‘canal secreto’ de comunicação de informação oficial para contornar eventuais pedidos de informação ao abrigo das leis da transparência. Segundo o relatório, o conselheiro de Fauci obstruiu deliberadamente a investigação, terá mentido ao Congresso em diversas ocasiões, excluiu ilegalmente registos federais sobre a pandemia e partilhou informações confidenciais sobre os processos de financiamento do NIH com o presidente da EcoHealth, Peter Daszak.

Fauci numa audição perante a Subcomissão que investigou as origens e a gestão da pandemia de coronavírus nos Estados Unidos. / Foto: Captura de imagem da transmissão em vídeo da audição.

Segundo o relatório, o Governo chinês, bem como agências do Governo norte-americano e alguns membros da comunidade científica internacional procuraram encobrir factos sobre a origem da pandemia de covid-19.

Outra das conclusões da investigação é que a resposta à pandemia envolveu fraude, desperdício de dinheiros públicos e abusos em larga escala.

Por outro lado, o relatório concluiu que o remédio não pode ser pior do que a doença, que foi o que sucedeu com a adopção de confinamentos demasiado vastos e rígidos que levaram a uma previsível angústia e consequências que eram evitáveis. Os confinamentos foram maus tanto para a Economia como para a saúde física e mental. No acesso a cuidados de saúde, os norte-americanos enfrentaram uma diminuição da qualidade do atendimento, tempos de espera mais longos, consultas médicas mais curtas e ausência de diagnósticos.

Na Economia, mais de 160 mil empresas fecharam a sua actividade durante a pandemia e 60% não voltaram a abrir. As taxas de desemprego subiram para níveis não vistos desde a Grande Depressão. Medidas de mitigação, incluindo o distanciamento social, afetaram desproporcionalmente setores com baixos salários.

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O fecho de escolas na pandemia deixará um efeito negativo profundo e duradouro nas gerações mais novas. O relatório da Subcomissão realçou que a Ciência nunca justificou o encerramento prolongado das escolas, já que era improvável que as crianças contribuíssem para a propagação da doença ou sofressem doença grave ou morte. Em vez disso, em resultado do fecho das escolas, as crianças sofreram perda de aprendizagem, maiores taxas de sofrimento psicológico e diminuição do bem-estar físico. O documento citou pontuações de testes padronizados que mostraram que as crianças perderam décadas de progresso académico em resultado do fecho de escolas. As preocupações com a saúde mental e física dispararam, realçando o relatória a subida em 51% das tentativas de suicídio por parte de raparigas dos 12 aos 17 anos.

O relatório concluiu, igualmente, que o Centers for Disease Control and Prevention (CDC) se baseou em estudos defeituosos para justificar a obrigatoriedade do uso de máscara facial. Além disso, a imposição de máscaras a crianças fez mais mal do que bem. Segundo o documento, não existiam evidências científicas conclusivas de que as máscaras protegessem efetivamente os norte-americanos da covid-19. As autoridades de saúde pública tiveram uma postura contraditória sobre a eficácia das máscaras, no início e durante a pandemia, sem fornecer dados científicos, o que provocou um aumento na desconfiança do público.

O relatório alerta que a Constituição norte-americana não pode ser suspensa em tempos de crise e que as restrições impostas às liberdades fundamentais causam desconfiança e minam até a saúde pública. E é particularmente crítica à acção da Casa Branca, que acusava de ter praticado uma política de censura, incluindo de informação verdadeira. Ao invés, o relatório adianta que altos responsáveis da Administração Biden, como Anthony Fauci, espalharam desinformação sobre diversos temas, das máscaras à eficácia das vacinas contra a covid-19, não permitido o debate científico e usando mesmo tácticas para descredibilizar académicos e cientistas com visões diferentes das da Casa Branca.

Segundo o relatório, as autoridades de saúde pública muitas vezes espalharam desinformação através de mensagens contraditórias, reações precipitadas e falta de transparência. Nos exemplos mais flagrantes de campanhas generalizadas de desinformação, o uso de drogas sem prescrição médica e a tese de a origem da pandemia ter sido um laboratório foram injustamente demonizados pela Casa Branca. A Administração Biden empregou métodos antidemocráticos e provavelmente inconstitucionais – incluindo pressionar as plataformas de redes sociais a censurar certos conteúdos sobre covid-19 – para combater o que considerou ser ‘desinformação’.

No caso específico da gestão da pandemia em Nova Iorque, a comissão apurou que o ex-governador Andrew Cuomo participou na implementação de más-práticas médicas e encobriu publicamente o número total de mortes em lares de idosos daquele Estado. Recorde-se que foi ordenado o envio de pacientes com covid-19 para os lares em Nova Iorque. Segundo o relatório, as evidências sugerem que Cuomo consciente e deliberadamente fez declarações falsas à Subcomissão em várias ocasiões sobre aspectos materiais do desastre do lar de idosos e o encobrimento subsequente. A Subcomissão encaminhou, aliás, uma participação para o Departamento de Justiça com o objectivo de processar Cuomo criminalmente.

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Por outro lado, segundo apuraram as audições que antecederam a conclusão do relatório, as vacinas contra a covid-19 devem ser “classificadas como terapêuticas [e não preventivas], visto que não impedem o contágio nem a transmissão do vírus”, mesmo assumindo que salvaram milhões de vidas ao reduzir a incidência de doença grave e morte.

Em todo o caso, o Food and Drug Administration (FDA) terá apressado a aprovação das vacinas contra a covid-19 para cumprir o cronograma a Administração Biden, mesmo após dois cientistas de relevo deste oprganismo regulador terem alertado para os perigos de se apressar o processo face aos riscos de efeitos adversos. Ambos foram ignorados e, dias depois, a Casa Branca concedeu a licença à vacina. A imposição do programa de vacinação, diz ainda o Subcomité, não foi apoiada pela Ciência e causou mais danos do que benefícios. A Administração Biden, defende o relaório, coagiu os norte-americanos saudáveis a cumprirem os mandatos de vacinação, atropelando-se as liberdades individuais e desrespeitando a liberdade médica. Tudo para forçar milhões a tomar uma nova vacina sem provas suficientes para apoiar as decisões políticas.

Pelo caminho, as autoridades de saúde pública envolveram-se num esforço coordenado para ignorar a imunidade natural – que é adquirida através de infeções anteriores por covid-19 – ao desenvolver orientações e imposição de vacinas. Nessa linha, o relatório conclui que, apesar de não ter fundamento científico, a imposição dos passaportes de vacina transformaram-se numa espécie de confinamento para os norte-americanos não vacinados contra a covid-19.

Por outro lado, o relatório conclui que os sistemas de notificação de reacções adversas às vacinas falharam, durante a pandemia, em informar adequadamente o público sobre as lesões causadas e deterioraram a confiança do público na segurança neste tipo de fármacos. Nessa linha, o relatório acusa as autoridades de não agirem de forma eficiente, justa e transparente perante as reivindicações dos lesados das vacinas contra a covid-19.

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Alguns dias após a divulgação do relatório final da Subcomissão, um juiz federal do Texas ordenou que FDA a divulgasse publicamente mais informações sobre a justificação que levou à autorização das vacinas contra a covid-19. Numa deliberação da sexta-feira da passada semana, dia 6 de Dezembro, o juíz Mark Pittman ordenou que a FDA disponibilizasse a um grupo de cientistas independentes o seu arquivo de documentos sobre a “autorização de uso de emergência” concedida à vacina Pfizer-BioNTech.


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