RESISTÊNCIA CULTURAL
Ali Jackson: a cena jazzística lisboeta recebe um dos melhores do Mundo

A cena jazzística lisboeta vive, discretamente, uma época de ouro. Podemos comprová-lo visitando, numa noite ao acaso, estabelecimentos fora dos circuitos noctívagos mais caudalosos como o Távola Jazz Club, a Sala Anexa, a Fábrica Braço de Prata ou o Café Dias.
Por lá, encontraremos, em palco ou na plateia, uma comunidade de jovens músicos que se formou nas melhores escolas de Portugal e do estrangeiro e sobretudo no convívio e na tradição oral desta música que, vinda dos Estados Unidos, é, ainda hoje, a língua franca dos que querem fazer dançar mas também emocionar, procurando o equilíbrio entre a proeza artística e o entretenimento do espírito.

Se o proverbial desdém português pela prata da casa impedir alguém de reconhecer esta época dourada (mesmo perante talentos estrondosos como os de Romeu Tristão, Hugo Lobo ou Ricardo Toscano) podemos apresentar, como pergaminho adicional, a quantidade e qualidade de nomes internacionais que, nessas mesmas casas, a eles se juntam com cada vez maior frequência. Aaron Parks, Jordi Rossi, Greg Hutchinson ou Emmet Cohen, são músicos de topo do jazz mundial que pudemos ouvir, a horas mais ou menos recomendáveis, em diálogo musical familiar com os de cá, só no último ano. ↓
O jornalismo independente (só) depende dos leitores.
Não dependemos de grupos económicos nem do Estado. Não fazemos fretes. Fazemos jornalismo para os leitores, mas só sobreviveremos com o seu apoio financeiro.
É neste contexto que o baterista norte-americano Ali Jackson se propõe a uma residência artística entre nós durante este mês de Dezembro.
A sua biografia confunde-se com a história do jazz e música popular das últimas décadas e nela constam participações com Aretha Franklin, Eric Clapton, Norah Jones, Tony Bennett, Willie Nelson e George Benson. Há 15 anos que se senta com autoridade e naturalidade na bateria da Jazz at Lincoln Center Orchestra, liderada por Wynton Marsalis.

Chega de pergaminhos.
No pequeno (grandioso) palco do Távola, no número 16 da Rua Coronel Bento Roma, no bairro de Alvalade (a 5 minutos a pé da estação de metro de Roma), serão cinco noites e quatro programas contrastantes, sempre às 22 horas (sendo conveniente chegar antes pelo número limitado de lugares):
Dia 11 – Três Mestres da Bateria: Max Roach, Art Blakey e Elvin Jones
Dia 12 – Soulful Songs: Uma mistura única de originais, clássicos e Blues
Dia 13 – Afro Latin Vibes com Victor Zamora e Osvaldo Pegudo
Dias 26 e 27: O melhor da música da década de 90 de Kenny Kirkland, Mulgrew Miller, Kenny Garret e mais.

Jackson vem porque sabe que há músicos e ouvintes que querem aprender, partilhar e celebrar o melhor da música.
Lisboa recebê-lo-á com entusiasmo, várias horas de ensaio e orgulho nos que se aventuram a fazer e apoiar música fora das redes sociais, dos circuitos subsídio-dependentes e dos modernismos vazios. Vale a pena testemunhar. E degustar.