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A propósito da exposição 'Complexo Brasil', Brás Cubas ressurge do além para lembrar que os vivos têm um delicioso hábito: chicotear defuntos alheios para fugir às culpas bem vivas do presente.

A Prime Artist, promotora que conseguiu travar no Tribunal Administrativo de Lisboa a acreditação obrigatória do PÁGINA UM para o concerto dos Marilyn Manson, enfrenta severa falência técnica, com capital próprio negativo de quase 788 mil euros e pesadas dívidas ao Estado. Ainda assim, avançou com uma acção judicial que, pelo seu timing, inviabiliza na prática o exercício de direitos jornalísticos garantidos por lei.

Brás Cubas observa a epifania genealógica do Correio da Manhã, que descobriu que Cristiano Ronaldo partilha genes com Gouveia e Melo — revelação apenas surpreendente para quem ignora que, em Portugal, ninguém escapa a herdar um bisavô remoto.

A Think About, a empresa do psicólogo e comentador da SIC Mauro Paulino – escolhida em circunstâncias nada claras pela direcção do Centro de Estudos Judiciários (CEJ) – falhou em nove de cada dez reprovações que aplicou nos testes psicológicos aos candidatos ao curso de juízes e magistrados do Ministério Público. Somente uma segunda avaliação independente desfez a 'razia', reduzindo de cerca de 100 para apenas oito os excluídos. Os resultados finais foram ontem homologados, e o curso de formação ministrado pelo CEJ arranca dentro de três semanas, com quase dois meses de atraso.

O PÁGINA UM revela, na íntegra, o polémico inquérito psicológico aplicado pelo Centro de Estudos Judiciários aos candidatos a juízes e magistrados do Ministério Público — um questionário com perguntas absurdas e potencialmente discriminatórias. A editora Hogrefe afirma deter licença exclusiva do teste PAI, mas recusa mostrar a versão alegadamente oficial usada no processo.

O curso de formação de magistrados do Centro de Estudos Judiciários arrancará com quase dois meses de atraso, após uma reavaliação dos testes psicológicos que chumbaram mais de metade dos candidatos já aprovados nas exigentes provas escritas e orais. O problema surgiu da aplicação de um inquérito habitualmente usado em reclusos, com perguntas como “Aproveitar-me-ia dos outros se fosse fácil” ou “Tenho diarreia frequente.” E há muitas mais deste género.

Na entrevista desta semana a Piers Morgan, Cristiano Ronaldo falou da carreira — já digna do Olimpo, a poucos golos dos mil — e dos negócios que tenta erguer fora dos relvados. Mas se dentro de campo continua a desafiar o tempo, no mundo empresarial o génio madeirense ainda procura o toque de Midas capaz de transformar o seu vasto império em rentabilidade. No ano passado, numa empresa que vale 148 milhões de euros, lucrou 'apenas' 724 mil euros. Um depósito a prazo daria maior rendimento. E há uma suprema ironia: das 29 subsidiárias, a mais lucrativa foi a Medialivre — dona do Correio da Manhã e da CMTV —, que durante anos o perseguiu com escândalos e intrigas.

Brás Cubas observou que há épocas em que a inteligência se recolhe — não por cobardia, mas por pudor de não querer partilhar salão com Pedro Chagas Freitas: esse pregador de almanaques que, entre Dostoiévski e o “Preço Certo”, fez da banalidade uma teologia e do sentimentalismo uma profissão de fé.

Brás Cubas foi lavrado nos cânones do oitocentos, para tratar as donzelas com candura, respeito e uma certa temperança. Mas perdeu a fleuma com Mafalda Anjos.

Hoje damos um passo especial: o lançamento do primeiro livro com a chancela PÁGINA UM. Mais do que um marco editorial, é um gesto de afecto. Ao longo de mais de um ano, Brás Cubas — a célebre personagem de Machado de Assis — analisou, com mordacidade e sátira, a política e a sociedade portuguesas do século XXI. Cerca de cinquenta dessas crónicas, revistas e editadas, dão forma à obra Correio Mercantil de Brás Cubas. À boa maneira do século XIX, abrimos agora um curto período de pré-venda com um bónus: quem subscrever até 10 de Setembro verá o seu nome inscrito na edição príncipe.

Se o Parlamento legislou sobre burkas, tão frequentes como sinapses em São Bento, Brás Cubas propõe que não se pare: aprove o Código da Decência Vestimentar, crie uma Inspecção-Geral da Compostura e purifique a nação queimando peúgas brancas diante de São Bento.

O hábito de comprar o jornal de manhã, lê-lo no café ou no autocarro e discutir as notícias no trabalho está a desaparecer. Os dados hoje revelados pelo Instituto Nacional de Estatística mostram que em 2024 venderam-se apenas 76,3 milhões de exemplares impressos em Portugal — menos de metade do registado em 2019 —, revelando o colapso da imprensa escrita e a perda definitiva de um ritual que moldou gerações de leitores.