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Na pandemia, o jornalismo cedeu ao espectáculo do medo: capas com “casos positivos”, rodapés com internamentos celebrados à custa de mortos, um culto estatístico sem contexto. Hoje repete-se o disparate com os incêndios: comparações descabidas, números em bruto, reportagens fotogénicas, mas sem denúncia estrutural nem escrutínio ao poder.

Filho de peixe sabe nadar, mas no caso de Luís Durão Barroso, filho do antigo primeiro-ministro, trata-se antes de um “filho de cherne” a mover-se no cardume de cargos governamentais: reconduzido nas Finanças quando já chefiava gabinete na Administração Interna, viu o seu nome mergulhar num oceano de despachos retroactivos e datas contraditórias. O PÁGINA UM conta a história...

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Com vastas áreas do país a arder, a Força Aérea está a alugar, à pressa, mais cinco helicópteros para reforçar o dispositivo aéreo de combate aos fogos. O primeiro contrato já foi tornado público no Portal Base e prevê a operacionalização de um helicóptero médio a partir de amanhã e até 15 de Outubro, por 892 mil euros.

Enquanto proclama combater a desinformação, o Polígrafo floresce como criatura simbólica dos bestiários medievais: uma hiena que simula compaixão enquanto devora carniça digital. Entre 2020 e 2024, recebeu mais de 2,3 milhões de euros da Meta. No ano passado, lucrou 396.789 euros — 23 vezes mais do que os 17.742 euros de 2019 —, sustentando-se quase só em parcerias comerciais. O leitor, esse, serve para legitimar o negócio.

Entrou no mundo dos media como costuma entrar em campo: para ganhar. No primeiro ano completo como accionista da Medialivre – dona do Correio da Manhã, CMTV, Sábado, Now e de duas rádios –, Cristiano Ronaldo viu a empresa registar lucros de 4,2 milhões de euros, mesmo num contexto de forte investimento e de crise no sector. A CR7 S.A., sociedade do jogador, tornou-se o maior investidor individual no final de 2023, com uma participação de 30%, mas um acordo parassocial mostra ser o principal investidor. Nove anos depois de lançar ao lago um microfone da CMTV, Ronaldo é agora o seu principal rosto institucional.

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Editorial de Pedro Almeida Vieira

A fronteira entre jornalismo e publicidade continua a ser ignorada pela CMTV, dirigida por Carlos Rodrigues, também director do Correio da Manhã. Por causa de marketing encapotado na inauguração de uma loja do Lidl e na promoção de aparelhos auditivos da Philips, sem qualquer aviso de que se tratava de publicidade, a Entidade Reguladora para a Comunicação Social instaurou um processo de contra-ordenação ao canal da Medialivre. A coima pode atingir os 150 mil euros. Mas este é apenas mais um episódio num padrão de promiscuidade do grupo de media que tem Cristiano Ronaldo como accionista de referência, revelando dificuldade em separar entretenimento, informação e patrocínio – e onde até jornalistas se tornam mestres-de-cerimónias pagos por autarquias e empresas, sem reacção firme dos reguladores.

QUADRI

LEI DA IMPRENSA

Pela segunda vez em sete dias, em vésperas de eleições, Carlos Moedas foi estrela num evento promovido pelo Correio da Manhã e pela CMTV — mas pago pela autarquia lisboeta. Sob o rótulo de “parceria”, mas formalizado por contrato de 147.600 euros com a Medialivre, a conferência sobre imigração decorreu em espaço e logística fornecidos pela Câmara. Moedas encerrou a sessão com 15 minutos de discurso. O ministro Leitão Amaro também teve 'linha aberta' para discurso.