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A pretexto da reacção de Luís Ribeiro sobre a escrita de artigos noticiosos em cumprimentos de contratos de marketing.

A ERC confirmou que publicações da Trust in News, de Luís Delgado, veicularam publicidade disfarçada de jornalismo em 16 artigos noticiosos, mas aplicou uma multa simbólica de apenas 2.000 euros, apesar de os contratos com o Instituto Camões e a Águas de Portugal valerem 244 mil euros. Entre os jornalistas que se aprestaram a mercadejar a profissão está Luís Ribeiro, coordenador da secção de Ambiente da Visão e comentador da SIC, autor de cinco desses textos pagos. A deliberação reconhece o dolo e o benefício económico, mas, já prescrita a responsabilidade disciplinar e sem correcções exigidas, institui-se uma “taxa de promiscuidade” que legitima o jornalismo vendido ao melhor patrocinador.

Editorial de Pedro Almeida Vieira

Com salários e subsídios em atraso, os trabalhadores da Trust in News (TIN) — dona das revistas Visão e Exame — entram hoje em greve por tempo indeterminado, mergulhando ainda mais a empresa em crise. O regresso à gerência de Luís Delgado, já cadastrado por abuso de confiança fiscal, levanta novas polémicas descobertas pelo PÁGINA UM: durante anos, este antigo jornalista e os outros dois gerentes atribuíram-se salários de luxo, enquanto a empresa acumulava dívidas que agora ultrapassam os 30 milhões de euros. Com um capital social de apenas 10 mil euros, a TIN tornou-se um caso exemplar de gestão ruinosa e impunidade fiscal no sector da comunicação social portuguesa.

A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), hoje presidida por Helena Sousa, arquivou em Agosto do ano passado, em segredo, um processo de contra-ordenação ao Público por publicidade ilegal à Tabaqueira, sem qualquer deliberação pública – como exige a lei – e recusa explicar os fundamentos da decisão. A multa poderia atingir 250 mil euros. O caso remonta a 2022, quando um anterior Conselho Regulador considerou, por deliberação unânime, tratar-se de uma contra-ordenação “muito grave”. A estratégia da Tabaqueira tem sido, nos últimos anos, comprar conteúdos comerciais na imprensa, promovendo-se como empresa tecnológica e de inovação, enquanto divulga, de forma sub-reptícia, produtos de tabaco aquecido.

Ouça o novo episódio de Alterações Mediáticas', o podcast da jornalista Elisabete Tavares sobre os estranhos comportamentos e fenómenos que afectam o 'mundo' anteriormente conhecido como Jornalismo.

O Ministério Público arquivou, alegando falta de indícios de crime, o inquérito sobre os negócios entre a Impresa, de Pinto Balsemão, e o Novo Banco, envolvendo também a Trust in News. A investigação teve origem numa denúncia anónima que levantava suspeitas quanto à legalidade de operações entre o grupo de media e o banco que sucedeu ao BES, e aparentemente coloca uma 'pedra sobre o assunto'. Será assim? Leia a análise de Elisabete Tavares sobre negócios de media que cheiram a esturro.

São números de escalabro: o Diário de Notícias vende menos de mil exemplares em papel por dia; o Público já desceu abaixo dos 10 mil e vive agora de clicks e fé digital; o Jornal de Notícias, que em 2004 vendia 127 mil, está reduzido a 16 mil; o Correio da Manhã, com 35 mil, regozija-se por vender um terço do que vendia há 14 anos. E o venerável Expresso, outrora senhor de 140 mil exemplares, arrasta-se pelos 33 mil. Os dados do primeiro trimestre de 2025 da APCT não mentem: é o obituário da imprensa generalista portuguesa. O PÁGINA UM traça o retrato de uma queda épica ao longo de 30 anos, em que os jornais ditos “de referência” já só têm o título... colado a cuspo e vaidade antiga.

PÁGINA UM

Encurralado pela Justiça, e assoberbado de dívidas, Luís Delgado aposta tudo no plano de insolvência da Trust in News, dona da Visão e da Exame, para tentar escapar à prisão e travar várias execuções, incluindo uma da Segurança Social por falta de pagamento de mais de 9,4 milhões de euros em comparticipações. O plano de insolvência aguarda homologação judicial, mas o risco de acusação por insolvência dolosa subsiste, agravado por suspeitas de activos fictícios e uma condenação transitada por abuso de confiança fiscal. A prisão efectiva é, cada vez mais, um cenário muito provável.

A Entidade Reguladora para a Comunicação Social confirmou que, durante a pandemia, David Pontes, hoje director do Público, participou em eventos pagos pela Câmara de Penafiel e pela Ordem dos Médicos Dentistas, que deviam ter sido identificados como publicidade. Apesar de a ERC reconhecer a natureza comercial dos eventos, aplicou uma coima de apenas 3.500 euros — menos do que os 17.500 euros recebidos pelo jornal. O regulador parece assim institucionalizar a promiscuidade editorial como prática aceitável, sujeita apenas a uma taxa simbólica.

Os membros do Conselho Regualador da ERCsabem o que fazem.